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Ressignificando o sopro da vida

gildahelenapacheco

Resgatando textos antigos do Facebook (texto publicado em 07/11/2018 em meu Facebook).







Esta semana li que no dia 01/11 completaram-se 506 anos que Michelângelo, no Dia de Todos os Santos, em 1512 concluiu e entregou a pintura do teto da Capela Sistina. Uma das partes dessa grandiosa obra de arte representa “O Sôpro da Vida” do livro de Gênesis e está no centro da Capela, retratando o momento crucial em que o dedo do Criador toca o do humano.

Quando eu era criança, vovó foi quem primeiro me mostrou essa imagem em um livro. Nunca esqueci... também nunca imaginei que ela teria alguma ligação com minha vida...

Tinha medo daquela gravura. Deus, aquele Senhor com barbas brancas, parecia bravo, os anjos ao redor, o toque do dedo... a nudez de Adão!

Cresci!

No colégio eu gostava de declamar, contar histórias, criava as minhas histórias. Enxergava figuras nas nuvens e criava estórias com personagens de minha imaginação. Inúmeras vezes recriei nas nuvens as pontas dos dedos de Deus e de Adão e recriava o sopro da vida nas nuvens que movimentavam-se, ora encobrindo, ora expondo os raios de sol.

Anos depois, já na faculdade, aprendi que esse fenômeno psicológico chama-se pareidolia e faz com que você tente associar imagens que aparentemente são abstratas, em coisas que seu cérebro já conhece. Foi assim comigo a vida toda. Só via e criava essas imagens nas nuvens do céu. “Via” sempre grandes personagens, Dom Quixote, Dom Pedro, Napoleão... “via” Santos também, Nossa Senhora, O Bom Pastor com as ovelhinhas... E volta e meia, lá tava eu vendo a cena da Criação do Gênesis, Deus de barba branca, os anjos, o Adão nú, os dedos se tocando. As vezes até evitava olhar para o céu durante o dia, para não ver as nuvens...

Quando fui a Roma pela primeira vez e me deparei com essa imagem no teto da capela, fiquei hipnotizada por alguns segundos, estava sozinha, não podia parar muito tempo, ali a fila anda rápido, mas fixei o olhar naquela imagem e me senti novamente aquela menininha curiosa quando viu a primeira vez a pintura de Michelangelo em um livro da avó.

Nessa época eu estava começando a fazer ultrassom. Havia terminado a faculdade recentemente e tinha resolvido fazer especialização em uma área que era novidade: ultrassonografia!

Havia ficado impressionada quando em uma aula de ultrassom o professor mostrou na tela uma imagem dizendo que aquela era a primeira imagem da vida. Inclinei o máximo que pude para buscar o melhor ângulo na sala de demonstração e enxergar o que ele mostrava. Estava eu ali, prestes a ver uma outra imagem que me fascinaria, outra retratação da Criação?Eu sempre fui aficcionada em imagem, em materialização de uma ideia e fiquei ali parada analisando: era a imagem da vesícula vitelina e do pequeno botão embrionário, de uma gestação em torno da quinta semana. Uma imagem muito simples, mas que conseguia tocar a minha alma. Olhando melhor, aquela imagem parecia muito um anel solitário, onde o embrião representava a pedra solitária. Minha mãe chama a pedra da jóia de “gema rara”. Fiquei emocionada ante a grandeza e o significado daquela imagem aparentemente tão simples. Compartilho com vocês essas imagens, porque hoje ao ler aquela notícia associei novamente as duas imagens da Criação e tinha que revelar o que descobri: coincidências da vida e da criação. Quando a gente enxerga com os olhos do amor, vê cores e coisas inimagináveis e descobre o amor oculto em todas as obras do Criador.

Qualquer um que faça ultrassom na quinta semana de gravidez vê essa imagem do anel. Eu nunca perco a oportunidade de enfatizar para a mãe que essa é a primeira imagem da vida, que a “gema rara” desse anel solitário é o embrião. Que essa jóia de incalculável valor está parcialmente lapidada e que está sendo entregue a ela como um presente do Criador, para que ela zele, cuide e receba com alegria. A analogia é perfeita! Difícil encontrar uma mãe ou um pai que não chore. Eu sempre fico com os olhos marejados, choro também as vezes. A minha revelação é que, com meu trabalho sinto-me quase tão importante quanto Michelângelo com o seu pincel, retratando o momento da Criação. Ele levou 4 anos para pintar; eu não apenas retrato, mas também vejo em tempo real, quase todos os dias, as pulsações cardíacas dos primeiros momentos de vida da criatura humana e não levo mais que 10 minutos para isso. Nesses instantes sinto que Deus habita em mim! Como mostra o afresco de Michelângelo: tão perto de mim, que até posso tocá-lo!



Gilda Pacheco






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